sábado, 2 de maio de 2009

Domingo na terça



Era apenas um dia como outro qualquer, ou pelo menos parecia ser. Às sete, já estava de pé, com café na mesa, por ele mesmo preparado, forte e amargo.



De segunda a sábado, a história se repetia. Trabalhava em um escritório, atrás de uma mesa, com telefone, fax, celular, e dezenas de e-mails a responder. Diversão era raro. Família, nem se fala. Há tempos não os encontrava. Mas naquela manhã, aquela em especial, acordou com uma vontade imensa de ver os entes queridos.


Tratou logo de ligar para o chefe, com voz rouca e abafada, fingindo mal-estar. Tomou um banho frio e vestiu a roupa de domingo em plena terça-feira. Bermuda, tênis e camiseta significava a sua liberdade.


Entrou no carro, preparou o pop rock anos noventa que sempre o alegrava e seguiu para a casa dos pais.


Sempre teve muito contato com a mãe, que ligava só para ouvir sua voz. Mas naquele dia, naquele em especial, queria abraçar e ouvir as histórias do velho pai.



Chegou na casa muito animado, a mãe ficou surpresa e o pai nem se fala. Sem perder tempo foi logo convidando-o para passear e almoçar fora. O pai, de olhar espantado todo desconfiado perguntou se estava bêbado. Sem se conter de emoção, a mãe empurra o pai para o quarto, insistindo para não perder tempo, que aquele era o seu filho com saudades do lar.


Saíram, se divertiram, conversaram por horas sentados ao banco de uma praça sem ver o tempo passar. Comeram em restaurante simples a comida preferida do pai: arroz, feijão, bife e batata frita.


Caminharam à beira da praia, lembrando-se dos bons tempos, quando um, ainda muito jovem, dependia do pai para o sustentar.


Com o sol já encostando no mar, os dois têm que voltar. Com um cansaço daqueles bons de sentir, por um dia diferente, de muita alegria.


Um dia inesquecível na vida dos dois que mal tinham tempo de se falar. O filho deixa o pai em casa, que satisfeito, lhe dá um abraço apertado e emocionado e um beijo no rosto como a muito não fazia.


"Pois é, e então tá..." despediram-se... com aperto no coração, tentado esticar um pouco mais o bom dia, mas com a certeza de que o amor entre pai e filho ainda exitia, só estava um pouco enferrujado.


Autor: Nelson Felix

Um comentário:

  1. PARABÉNS Nelson!!!
    Não querendo "bajular"....mas ficou muito bom mesmo! Excelente texto..até me emocionei, rsrsrs!
    Bem escrito, estrutura perfeita, até parecer que fui eu a sua professora....hahahaha.
    Garoto esperto, aprendeu direitinho, né?!!!
    Brincadeiras à parte...PARABÉNS!
    Muito bom mesmo!!!

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